
A calma enganosa sobre as águas quentes do Caribe se transformou em um alerta global: o Furacão Melissa, que teve sua formação rastreada desde meados de outubro de 2025, ganhou força rapidamente e se tornou uma das tempestades mais intensas já vistas na região. A origem da tempestade está ligada a uma onda tropical que se deslocou da África Ocidental em direção ao Atlântico central, atravessou o Mar do Caribe e encontrou condições praticamente ideais para se intensificar — águas muito quentes, baixo cisalhamento do vento e correntes de direção fracas.
O Melissa foi declarado como tempestade tropical no dia 21 de outubro e, em poucos dias, alterou seu comportamento: o movimento tornou-se lento — cerca de 8 km/h em alguns momentos — e o sistema passou por um processo de rápida intensificação, atingindo a categoria 5 na escala Saffir-Simpson, com ventos sustentados estimados em até 257 km/h.
Para países como a Jamaica, que já vivenciam o risco de furacões todos os anos, a chegada do Melissa marca um novo patamar de ameaça: não se trata apenas de ventos fortes, mas de ventos que duram mais, de chuvas recordes, de elevação do nível do mar que pode atingir quatro metros em trechos costeiros, de deslizamentos em regiões montanhosas. Já se fala em “pior tempestade da história” para a ilha.
As consequências previstas são graves: inundações rápidas, larga escala de destruição da infraestrutura, comunicação e energia suspensas por dias. No Haiti e na República Dominicana, faixas externas da tempestade já provocaram deslizamentos e mortes — mesmo antes da chegada plena do furacão.
Mas o que esse evento extremo nos revela sobre o nosso planeta? Por um lado, ele reforça como as mudanças climáticas e o aquecimento dos oceanos proporcionam o “combustível” para sistemas mais fortes e mais persistentes. Tempestades de categoria 5 continuam sendo raras — menos de 4% de todos os furacões do Atlântico — e menos ainda quando atingem terra com essa intensidade. A Jamaica nunca havia enfrentado diretamente um furacão de categoria 5 em seus registros modernos.
Além disso, o Melissa destaca a importância de preparação e adaptação: evacuações obrigatórias estão em curso, abrigos foram abertos, aeroportos fechados, e as autoridades fazem apelos desesperados para que a população busque proteção em áreas seguras. Porém, a vulnerabilidade permanece — muitas construções não foram feitas para aguentar ventos dessa magnitude, e áreas montanhosas têm alto risco de deslizamento.
Para o leitor da Jornada Curiosa, não se trata apenas de mais uma notícia meteorológica. Trata-se de um caso de estudo em tempo real — onde ciência, clima, geografia e sociedade convergem. O Melissa revela que o “cotidiano extremo” pode chegar de repente, que o impacto será sentido muito além da linha da costa, e que nossa reação coletiva (planejamento, infraestrutura, alerta) faz diferença real.
Por isso, vale acompanhar com atenção: não só para saber “se vai atingir”, mas para entender como ele atinge, por que está tão forte, o que isso significa para regiões vulneráveis — e o que isso nos ensina sobre como o mundo está mudando.



