
Imagine um objeto sólido que, por décadas, os matemáticos achavam que não podia existir — e então ele aparece. Em 2025, uma equipe composta por Jakob Steininger e Sergey Yurkevich anunciou a construção de um poliedro que não possui a chamada “propriedade de Rupert”. Esse poliedro, que eles chamaram de “Noperthedron”, não permite que uma cópia sua passe por um túnel cortado em seu interior — algo que para muitos sólidos era sempre possível. A descoberta não é apenas curiosa: ela questiona crenças profundas em geometria, abre janelas para aplicações futuras e nos lembra que mesmo “o que parece feito” ainda pode surpreender.
A “propriedade de Rupert” — proposta pelo estudo histórico de Prince Rupert of the Rhine no século XVII — afirmava que determinados sólidos convexos permitiriam que uma cópia idêntica passasse por um buraco dentro do sólido original. Exemplos clássicos, como o cubo de Rupert, mostram que uma figura pode conter cópias de si mesma em rotatividade.
Para muitos pesquisadores, parecia provável que todos os sólidos convexos em três dimensões possuíssem essa propriedade. Até agora. O Noperthedron, descrito em um preprint de agosto de 2025 no arXiv, rompeu essa crença. Ele possui 90 vértices, 240 arestas e 152 faces (150 triângulos e 2 pentadecágonos) e foi projetado cuidadosamente com simetrias específicas para provar que nenhuma passagem interna de tamanho equivalente poderia ser criada.
A construção e prova envolveu tanto raciocínios teóricos quanto cálculos intensivos por computador: mais de 18 milhões de casos, conforme os autores.
Por que isso importa? Porque desafiar esse limite implica que nossa compreensão de “espaço tridimensional” ainda pode esconder exceções, que podem ter repercussões em áreas como modelagem computacional, visualização 3D, design de materiais e até teorias de alta dimensão. Além disso, para o público curioso, é um lembrete de que “o trivial” pode esconder surpresas profundas.
Os autores destacam que esta é apenas a “primera” de sua espécie — e que agora podem existir outros sólidos sem a propriedade de Rupert, ou variantes que mudem as regras.
A descoberta do Noperthedron é um marco: mostra que mesmo em algo aparentemente “resolvido” como a geometria de sólidos em 3D, podem surgir surpresas. Para quem acompanha o mundo da curiosidade científica, isso representa não um fim, mas um novo começo — uma porta aberta para explorar o que ainda não sabemos sobre formas, espaços e suas possibilidades. No portal Jornada Curiosa, nos interessa exatamente esse tipo de momento: quando o “conhecido” encontra o “inesperado”. Fique atento — porque o mundo é mais estranho e incrível do que muitas vezes imaginamos.



