
Em outubro de 2025, os Estados Unidos anunciaram a mobilização do porta-aviões USS Gerald R. Ford e toda sua esquadra para uma zona que muitos consideram menos estratégica para guerras convencionais — a América Latina e Caribe. Oficialmente, o objetivo é reforçar a luta contra o narcotráfico; na prática, o movimento é o mais significativo da Marinha americana nessa região em décadas. Para leitores da Jornada Curiosa, a pergunta não é apenas “quem vai combater o tráfico?”, mas também “o que isso revela sobre poder, política e soberania em nosso hemisfério?”
O USS Gerald R. Ford é o maior porta-aviões em atividade no mundo. Alimentado por reatores nucleares, ele transporta mais de 75 aeronaves de combate, helicópteros, drones, e possui escolta de destróieres, submarinos e navios-apoiadores. Sua partida para a região não é mero exercício: o Pentágono afirmou que essa força “reforçará a capacidade de detectar, monitorar e interromper atores ilícitos que comprometem a segurança do hemisfério ocidental”.
A justificativa central é o combate ao narcotráfico — a rota Caribe-Atlântico, a influência de cartéis e organizações que operam nas fronteiras marítimas ou na Venezuela. Desde setembro, houve operações que resultaram em mortes de suspeitos e uso de força naval e aérea em águas internacionais.
Mas vários analistas destacam que há uma camada geopolítica sob a superfície: o movimento aproxima-se da Venezuela, ameaça a soberania de países vizinhos e levanta temores de que o combate ao tráfico seja pretexto para outros objetivos.
O que isso implica para o Brasil e para o Hemisfério
Para o Brasil, essa movimentação representa múltiplas reflexões:
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A proximidade de uma superpotência naval na vizinhança exige análise de soberania, alianças e risco de escalada.
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As rotas de tráfico podem ser impactadas — mas se um navio-porta-aviões pode mudar aquilo que milhares de agentes de campo não conseguiram, o que isso revela sobre eficácia e prioridades?
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O equilíbrio entre segurança, cooperação internacional e respeito às normas é delicado — o Brasil pode atuar como mediador ou parceiro, dependendo das circunstâncias.
Desafios e críticas
Apesar dos argumentos oficiais, surgem várias críticas e riscos:
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Intervenção militar localizada na América Latina sempre suscita temores de escalada, “guerra por procuração” e violação de soberanias nacionais.
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A legalidade das operações — ataques a embarcações suspeitas, uso de força em águas internacionais — é questionada por organizações de direitos humanos.
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O combate ao narcotráfico “navalizado” não elimina as causas estruturais — pobreza, rota terrestre, demanda de drogas — levantando a pergunta: será que o porta-aviões ataca o problema ou apenas o simboliza?
A chegada do USS Gerald R. Ford ao mar do Caribe e áreas adjacentes não é apenas mais uma notícia de marinha ou “guerra ao tráfico”. Para quem acompanha com curiosidade, é um espelho de como o poder naval, a geopolítica e o tráfico se cruzam no hemisfério ocidental. Em 2025, o seu quintal – o Atlântico Sul, a América Latina – passa a estar no centro de uma engrenagem de segurança global. O portal Jornada Curiosa permanece de olho: porque entender o que está além das manchetes é essencial.



